sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Já se pode ler 'Ls Lusíadas em mirandês

No Dia da Língua Mirandesa, é apresentada a tradução do poema épico na segunda língua oficial portuguesa
Há uma nova tradução de Os Lusíadas a partir de hoje e numa língua que, apesar de oficial e falada numa pequena parte de Portugal, poucos portugueses conhecem e até surpreenderia Luís de Camões: o mirandês.
A tradução para a língua mirandesa é de responsabilidade de Francisco Niebro [pseudónimo do professor de Direito Amadeu Ferreira], que já no ano passado publicou na mesma língua a versão em banda desenhada do mais importante poema épico nacional, com ilustrações de José Ruy.
À primeira vista, as diferenças são poucas na capa, e o leitor mais desprevenido acharia estar perante um erro tipográfico que teria feito cair o "O" de Os Lusíadas e posto um "L" no título mirandês que é Ls Lusíadas. Se o leitor reparar na inscrição ao baixo da capa, já poderá aperceber-se da novidade porque está escrito "an Mirandés traduçon", mas é ao ler os versos do Primeiro Canto que se espanta com a transformação:
"Aqueilhas armas i homes afamados / Que, d'Oucidental praia Lusitana, / Por mares datrás nunca nabegados, / Passórum par'alhá la Taprobana, / An peligros i guerras mui sforçados."
E segue assim pelos restantes 8811 versos que completarão os dez cantos da obra de Camões.
O lançamento da tradução de Ls Lusíadas acontece em Miranda do Douro hoje (17-09-2010), o Dia da Língua Mirandesa, 11 anos após o seu reconhecimento oficial como segunda língua oficial de Portugal.
A edição desta tradução de Os Lusíadas é da Âncora Editora, que já publicou vários títulos em mirandês. Francisco Niebro tem outras traduções nesta língua, designadamente de escritores latinos como Horácio, Virgílio e Catulo e duas aventuras de Astérix.

1 comentário:

  1. L Antruido de las Palabras

    Las palabras agárran-se a las cousas i al tiempo
    Bénen de tan longe cargadas de bida i sentido
    Que solo se deixan conhecer por música.
    Screbir ye poner un maçcarilha que las sconde
    I las deixa a drumir asperando quien las diga
    Hai palavras culas alas de l sentido cortadas
    E quando las dezimos nun son capazes de bolar
    Nien nós las entendemos
    Porque andamos culhas ne l bolso
    Como cachico de bida que quedou agarrado a um retrato
    Las palabras ténen bilhete d’eidentidade
    I certidón de nacimiento:
    Hai que antrar an casa deilhas ua por ua
    Çcubrir l que tén andrento
    I stendé-las a la jinela cumo mantas an manhana de San Juan.

    Francisco Niebro em Cebadeiros, ed. por Campo das Letras, 2002

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